Funarte: Projeto Bossa Criativa oferece curso gratuito online de violão de sete cordas

O violão de sete cordas, instrumento originário da Rússia, introduzido no Brasil no fim do século XIX, é tema do curso online que o músico goiano Rogério Caetano apresenta no Projeto Bossa Criativa. Ao longo de cinco vídeo-oficinas, o artista aborda os princípios básicos para a execução do instrumento, a criação das frases de contraponto, contextualização histórica da linguagem do instrumento, sua origem, referências, características, postura, técnica, estilo, entre outros assuntos. As vídeo-oficinassão gratuitas e estão disponíveis em www.bossacriativa.art.br.

 

A atividade faz parte do projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente, uma parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música. As vídeo-oficinas integram a série de 24 módulos, ministrados também por Poficina Borghi, Miguel Garcia e Jean Charnaux, e inclui, além do violão de sete cordas de aço, também o violão de seis cordas.

 

Nascido em Goiânia, Rogério Caetano é violonista, arranjador, produtor musical e compositor. Bacharel em Composição pela Universidade de Brasília, mestrando no Promus-UFRJ, é referência do violão de sete corda. Com sua linguagem inovadora, ele representa uma nova escola desse instrumento.

 

O violão de sete cordas

 

Pesquisadores associam o surgimento do violão de sete cordas no Brasil ao fato de ter existido, no centro do Rio de Janeiro, uma pequena comunidade de ciganos russos, em meados do século XIX. Esse grupo passou a interagir com ex-escravos da região portuária da cidade, e a frequentar as famosas “rodas”, introduzindo ali o instrumento, que acabaria se tornando um diferencial no samba e choro brasileiros. Rogério Caetano acredita na versão que diz que o encontro dos músicos dos dois países ocorreu na casa da famosa Tia Ciata, uma das figuras mais influentes no surgimento do samba carioca.

 

O estilo da técnica de contraponto e acompanhamento foi desenvolvido ao longo do século XX, por nomes como Dino 7 Cordas, Raphael Rabello e Ventura Ramirez. O instrumento diferenciado já foi até tema de um documentário: Sete vidas em sete cordas. No filme, o músico Yamandú Costa vai à Rússia investigar as origens desse violão.

 

Confira entrevista exclusiva com Rogério Caetano:

 

Quando e como surgiu seu interesse pelo violão de sete cordas?

Meu primeiro instrumento foi o cavaquinho. Comecei a tocar aos seis anos de idade e aí, a partir dos 12, descobri o violão de sete cordas. Conheci o som desse violão e me apaixonei por ele no disco da Elizeth Cardoso com Zimbo Trio e Época de Ouro, quando eu ouvi o Dino 7 Cordas pela primeira vez. Na realidade, eu já ouvia muita coisa do 7 Cordas desde criança, mas esse disco foi o que me deu o estalo sobre o que eu queria em música.

 

Por que esse violão é tão especial, principalmente para o samba e o choro?

 

Ele é muito especial porque é muito criativo, um violão inteligente, com muita liberdade. Toda linha traçada no violão de sete cordas, como as de baixo e acompanhamento, assim como as baixarias criadas por ele, tudo é improviso e criação. A beleza desse instrumento está nisso.

 

A música foi muito impactada pela pandemia, como está sendo isso para você?

 

É verdade, houve uma mudança muito grande. Eu, por exemplo, viajava todo fim de semana, ou quando não viajava estava fazendo shows. Então, foi uma grande mudança. Eu já tinha feito um curso online em 2019, mas nunca tinha dado ênfase a ele. Com a pandemia, porém, foquei totalmente nisso, comprei equipamento para que eu pudesse gravar de casa. E tenho feito também gravações de CDs. Gravei até um vídeo com produção do Kassin, dos 100 anos da UFRJ, assim como essas vídeo-oficinas do Bossa Criativa, tudo de casa. A gente teve que se adequar rapidamente. Agora, depois de quase sete meses, é que vou fazer a primeira viagem, participar de um evento fechado em Maceió. Tivemos que nos readequar e rearticular para nos readaptarmos a essa nova realidade.

 

Como é sua participação no projeto Bossa Criativa?

 

Esse conteúdo que eu compartilhei no Bossa Criativa contém os passos fundamentais. São as matrizes iniciais que as pessoas têm que absorver para desenvolver a sua criatividade, sua autonomia e sua liberdade; para tocar nessa linguagem de um jeito muito livre. Acho que essa forma de tocar é a grande paixão. Cada pessoa que absorve essa linguagem, de forma conectada aos fundamentos dos grandes mestres, pode atingir essa liberdade. Isso é um grande barato e foi o que eu procurei passar nos vídeos. Dividir essa relação, esse conhecimento e essa forma de se pensar música, com as pessoas. É uma linguagem tão brasileira, tão rica, que vem desde o Irineu de Almeida, passando pelo Pixinguinha, Dino (7 Cordas) e todas as outras gerações.

 

O projeto

 

Parceria entre a Fundação Nacional de Artes – Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com curadoria de sua Escola de Música, o Bossa Criativa reúne apresentações e oficinas de diversas linguagens artísticas e formas de economia criativa. O foco é a democratização da cultura, bem como a diversidade e a difusão de todas as artes, de modo inclusivo. As atividades são compostas de pocket shows, performances e vídeos de capacitação, exibidos no site www.bossacriativa.art.br, com participação de artistas de todo o Brasil. A agenda inclui lançamento de edital para novas propostas artísticas e culturais; e também chamamento público para apresentação de trabalhos de mestrado na área das artes. A iniciativa faz parte do Programa Funarte de Toda Gente.

 

Fonte: Funarte