Espetáculo Circa é montado para retratar a questão da mulher dentro e fora da arte

No circo a mulher pode ser serrada ao meio, barbada, anã, monga, siamesa, o fruto proibido de desejo do palhaço que como diz no velho jargão “é ladrão de mulher”. E, quando vista pelo prisma da beleza, ela é cercada de maquiagem ou roupas que sempre marcam o corpo. Mas, seria esses os únicos papéis possíveis a ela? É nessa perspectiva que “Circa”, está sendo montada. Um espetáculo que transita entre teatro, circo e cinema para levar à cena o real significado do protagonismo feminino dentro e fora da arte.

 

Em “Circa – As Mulheres no Universo Artístico”, a atriz Aline Calixto (foto) protagoniza a vida de várias artistas circenses que para viver o sonho de ser uma estrela, precisa se desdobrar em muitas tarefas. Tanto para se afirmar profissionalmente como para dar conta de desempenhar outros inúmeros papéis sociais que a sociedade, patriarcal, cobra de toda e qualquer mulher.

 

“’Circa’ transita em dois ambientes: o camarim e o picadeiro. Nesse sentido que é metafórico, porque nos bastidores há toda a reflexão do feminino dentro do universo circense e traz a ribalta esse tipo de debate de como é a vida da mulher no plano pessoal e de trabalho. A gente fala dessas questões de vida pessoal e profissional que assolam a mulher que vive no meio artístico e que, por diversas vezes, é cercada por um meio extremamente masculino e até mesmo machista”, argumenta a atriz.

 

Com texto e direção de Breno Moroni, o espetáculo precisou de modificações devido à pandemia. “’Circa’ foi pensada em um contexto antes da Covid. Por isso, tivemos de adaptar o roteiro para o audiovisual, no formato de cine teatro. Os ensaios estão sendo bem difíceis porque o online não foi o suficiente. Repensamos nos ensaios presenciais e adotamos protocolos de biossegurança. E, tudo implica desafios, porque teatro é prática, precisa ser feito em conjunto e no atual momento a gente precisa de cuidado”, explica o diretor.

 

Com duração de 50 minutos e seis exibições, a previsão é que “Circa” estreie até o final do semestre. A transmissão será feita via internet, com pré-estreia na sede do Circo do Mato para um grupo convidado. Em seguida, o vídeo será disponibilizado ao público em geral, com a promoção de um debate logo após a veiculação do espetáculo.

 

Contemplado com recursos do Programa de Fomento ao Teatro (Fomteatro/2019), da Sectur – Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campo Grande, o espetáculo “Circa” promete grandes surpresas.

 

“O que posso adiantar ao público é que estamos usando técnicas circenses não comuns no espetáculo. Nada que já se viu em Campo Grande, e quem sabe mesmo no Brasil. São muito raros os números que vamos fazer, apresentar. Além de todos os temas que serão postos em reflexão”, afirma Breno Moroni.

 

Outro ponto interessante na dramaturgia do trabalho é a questão da maternidade recém-iniciada na vida da atriz, Aline Calixto, com a chegada da pequena Alícia. Ponto que a aproxima de muitas das histórias que serão retratadas dentro da “Circa”.

 

“Estou, agora, nesta empreitada da maternidade, da maternagem, e preciso de uma rede de apoio para que eu possa ensaiar. Preciso pensar nesta condição da minha maternidade, aliar à proposta da ‘Circa’. São coisas assim que estão caminhando juntas e que me auxiliam em cena também, porque me ajudam a desconstruir para construir essa personagem. Ela que está mais para uma persona, pois transita entre várias personagens do circo”, finaliza.