Geraldo Roca será homenageado no FIB com tributo de artistas de Mato Grosso do Sul

ZeroUmInforma/ArteECultura – O Festival de Inverno de Bonito homenageia um dos mais criativos pensadores da cultura sul-mato-grossense em sua décima sétima edição: Geraldo Roca. A abertura musical do FIB em 2016 será um tributo musical ao artista, dirigido por seu fiel parceiro Paulo Simões.

Geraldo Roca é reconhecido nacionalmente como um dos mais influentes compositores da música sul-mato-grossense. Em 1975, ao lado do amigo Paulo Simões, compôs a clássica “Trem do Pantanal”, guarânia com harmonia de blues que se tornou o hino do coração dos sul-mato-grossenses. Desde então, não parou mais de compor pérolas que iriam refletir o imaginário fronteiriço cultural de Mato Grosso do Sul. “Mochileira”, “Polca Outra Vez”, “Japonês Tem 3 Filhas”, “Rio Paraguai”, “Uma Pra Estrada”…

Carioca nascido em 9 de junho de 1954, deixou uma obra que é um legado riquíssimo para a música brasileira. Composições que ilustram, com letras em português-espanhol-guarani e ritmos ternários baseados na polca paraguaia e guarânia, o jeito de ser do povo sul-mato-grossense e sua ligação ancestral com a cultura paraguaia. Roca mais do que um compositor era um pensador e teórico do continente sul-americano.

Estudioso das correntes musicais dos quatro cantos do planeta, não deixou de batizar a música feita por ele e seus colegas como a “música do Litoral Central”, denominando e posicionando a música sul-mato-grossense perante a América do Sul de maneira provocadora, já que o termo ele emprestou dos argentinos, que desde Tránsito Cocomarola chamam o som mais regional e folclórico de seu país como “música litoraleña”, aquela feita na beira dos rios, no mar de dentro, no mar interior. Um paradoxo que atraiu em cheio o pós-modernista Roca.

Dono de uma voz grave que não passava desapercebida e adepto ao rock’n roll clássico, fã de Bob Dylan, de literatura e apaixonado pela sua guitarra Fender Telecaster, Geraldo Roca produziu uma pequena discografia. Lançou apenas três discos como artista solo: Geraldo Roca (1988), Litoral Central (1997) e Veneno Light (2003). Ele também participou do disco “GerAções” (2006) cantando “Lá Vem Você de Novo”, de Geraldo Espíndola, e no CD “Música & Sons”, em 2012, com a clássica “Mochileira”, em sua única versão gravada ao vivo.

A influência da obra de Roca é incalculável e se expande a cada dia. O músico conquistou a sua própria geração ao ser um dos primeiros compositores entre o grupo liderado pelo amigo Geraldo Espíndola, de quem se declarava abertamente fã. Roca confirmou seu talento como instrumentista ainda jovem, aos 26 anos, ao gravar o LP do padrinho Renato Teixeira chamado “Garapa”, em 1980, tocando viola de 10 cordas.

É considerado o pai da polca rock por ser um dos primeiros a mesclar o rock aos ritmos fronteiriços, quando na segunda metade dos anos 1970 compôs as desbravadoras “Japonês Têm Três Filhas” e “Polca Outra Vez”. Nos últimos anos, as suas canções servem de inspiração e referência como das mais significativas do que vem sendo chamado de “folck brasileiro”. Geraldo Roca fez a sua última viagem no dia 25 de dezembro de 2015, com apenas 61 anos. Ele deixou dois filhos, várias músicas inéditas e um disco incompleto que começou a produzir com o amigo Renato Teixeira.