Semana de Arte Moderna completa 94 anos

ZeroUmInforma/ArteECultura – Há exatos 94 anos, teve início um movimento no Brasil que rompeu com paradigmas das artes da época: A Semana da Arte Moderna. Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo tornou-se palco de conferências e recitais de músicas e poemas, onde um grupo de artistas se rebelava contra padrões estéticos da arte brasileira vigentes desde o século anterior. O movimento estabeleceu novo cânone nas artes nacionais. Além de dar origem ao Modernismo do Brasil, a iniciativa foi fundamental na formação da identidade do País.

O Modernismo foi um movimento artístico que rompeu com o tradicionalismo, buscou a libertação estética e uma identidade artística nacional. As novas linguagens modernas de movimentos artísticos e literários europeus foram assimiladas ao contexto artístico e a elementos da cultura brasileira.

 Seus principais artistas – Oswald e Mario de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Manuel Bandeira –, já vinham produzindo obras que anunciavam mudanças, mas o marco de uma verdadeira ruptura entre o velho e o novo ocorreu durante a Semana.
Além de resgatar as origens brasileiras e valorizar o patrimônio do País, os artistas dialogavam com movimentos europeus como o Dadaísmo, Cubismo e Futurismo. “Os modernistas provocaram a reflexão de acesso ao universal a partir da singularidade brasileira”, afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira, ao comentar que o Ministério da Cultura está programando uma celebração na comemoração do centenário da Semana, daqui a seis anos.
O presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Francisco Bosco, explica que o Modernismo foi “tanto um momento de desrecalque afirmativo dos traços singulares da formação do Brasil (e, com o conceito de antropofagia, soube inclusive equacionar as contradições implicadas nessa ação descolonizadora em parte inspirada por movimentos europeus) quanto um momento de aggiornamento estético, que colocou o país no compasso cosmopolita das invenções formais que lhe eram contemporâneas”.
Francisco Bosco explica ainda que o Brasil atual não é o mesmo da década de 1920 e esse fato é um efeito do próprio movimento “Se, por exemplo, há muito já não nos aflige o problema do estabelecimento de uma arte nacional, que não seja um reflexo pálido das matrizes colonizadoras, é em boa parte porque as obras dos modernistas – e, em seguida, das gerações influenciadas por eles – realizaram com folga o intento”, afirma.
Para ele, os modernistas permitiram esmaecer no horizonte a pergunta “O que é o Brasil” e iniciar a tradição de sua resposta. “Mas é oportuno dizer que a pergunta que agora se coloca em nosso horizonte – “O que pode ser o Brasil?” – ainda exige revisitações permanentes aos textos modernistas para que encontremos os melhores caminhos”, comenta.
Para a professora Maria Eugênia Boaventura, do Instituto de Linguagens da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Semana e seus desdobramentos foram importantíssimos para a linguagem artística atual. “Se você só copia que autoestima você tem? Antigamente, só fazíamos isso. A Semana foi uma marco histórico e as obras foram importante consequência. Se parou para pensar sobre o que estava sendo feito aqui”, disse.
FCRB e o Modernismo
O Modernismo é um dos temas mais presentes e recorrentes de pesquisas e debates da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), entidade vinculada Ministério da Cultura. “A Semana da Arte Moderna foi um divisor de águas, cuja repercussão se desdobra pelas décadas seguintes”, afirma Lia Calabre, historiadora e presidente da FCRB.
“A Semana é inspiradora como constante movimento revolucionário e questionador do estabelecido e vigente. É inspiradora como um olhar focado nas mudanças, no futuro, na quebra de conceitos pré-estabelecidos e muito consolidados”, pontua.
No ano passado, a Casa promoveu um seminário sobre Mário de Andrade, um dos grandes expoentes da Semana, por ocasião dos 70 anos de sua morte. A iniciativa buscou debater, à luz de toda a construção feita nos anos 1920 e 1930, a política hoje. “Mario de Andrade foi um revolucionário no seu tempo, que também olha para tradições e saberes. É outra figura para pensar novos rumos para cultura e arte para século 21”, comenta.
Outra iniciativa realizada pela FCRB, também no ano passado, foi um colóquio internacional com objetivo de pensar como as revistas modernistas de arte e de literatura estabeleceram redes e circulação e trouxeram questões transnacionais.