Abertura de teatros e centros culturais em cidades aproxima e transforma os cidadãos

Em tarde de tempestade, Marina Alice, 13 anos, João Victor, 10, e Marcos Vinícius, 12, estariam cada um em sua casa, entediados e diante do aparelho de tevê. Era esse o cotidiano do trio no Recanto das Emas, no Distrito Federal, até que um terreno baldio de 3.000 m², coberto de capim alto, se transformou em um território de brincadeiras, sonhos e aprendizados. Na tarde da última quinta-feira (4), debaixo de uma forte chuva, eles se esbaldavam em um pega-pega movido por gargalhadas entre as quadras do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), projeto de forte impacto sociocultural coordenado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.

 

Marina, João e Marcos tiveram as vidas afetadas e entrelaçadas pela chegada de um equipamento de lazer, cultura e inclusão do porte do CEU. Até a inauguração, a região administrativa do Distrito Federal, com 145 mil habitantes, não tinha um teatro sequer. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, 69% dos municípios na faixa populacional do Recanto das Emas tinham até quatro equipamentos culturais em atividade. Em cidades menores (de até 10 mil habitantes), apenas 40,3% tinham ao menos um equipamento, na maioria dos casos, bibliotecas.

 

“Aqui, toco violão, jogo futsal e faço amigos. Hoje, sei andar de skate e aprendi técnicas de pintura em tela, além de estudar computação. Também venho às apresentações de teatro. A última que vi era uma performance sobre percussão corporal. Posso dizer que o CEU é espaço aonde brinco e aprendo quando saio da escola”, conta Marina, prima de Marcos, que também faz teatro. “Foi aqui no CEU que eu e Victor descobrimos que estudávamos na mesma escola. A gente nunca tinha se visto lá. Agora, somos melhores amigos”, ressalta o garoto.

 

Espaços de cidadania

 

A Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania trabalha para, por meio de metas do Plano Nacional de Cultura (PNC), fomentar políticas públicas para alterar a oferta de equipamentos, serviços e bens culturais em todas as cidades brasileiras. Uma das metas do Plano, a 31, afere a presença de espaços culturais, como museus, teatros, salas de espetáculos, arquivos públicos, centros de documentação, cinemas e centros culturais, por faixa de população. Projetos como o CEUs, o Cinema Perto de Você (da Agência Nacional do Cinema, a Ancine) e museus do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) têm impactado essa realidade.

 

Ainda neste ano, o Ministério da Cidadania vão unificar os CEUs com os Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs) e os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS). O novo modelo se chamará “Estação Cidadania”, reunindo ações culturais, práticas esportivas e de lazer e cursos para formação do mercado de trabalho com foco em comunidades de alta vulnerabilidade econômica e social. “Esses equipamentos contribuem para democratizar a cultura e integrar as populações de um município, aproximar o centro da periferia. O exercício da cidadania se dá plenamente com o acesso a bens e serviços culturais”, destaca o secretário Especial da Cultura, Henrique Pires.

 

Teatro transformador

 

Com 130 lugares, o Teatro Municipal Heloína Ribeiro de Souza despertou talentos na cidade de Piraquara (Foto: Divulgação)

Foi o que aconteceu na cidade de Piraquara, interior do Paraná, quando, em abril de 2016, a prefeitura, com recursos do Ministério da Cidadania, construiu o Teatro Municipal Heloína Ribeiro de Souza, homenageando a memória da pianista que incentivou a cultura local por gerações. A cidade não é a mais a mesma desde que passou a ter um espaço de 130 lugares com programação diversificada. “A população abraçou o teatro, as pessoas acolheram as atrações. Passamos a receber peças de teatro que receberam lei de incentivo. Criamos uma mostra de teatro de Piraquara. Hoje, o município vive cultura nesse espaço”, conta a secretária municipal de Cultura e Esportes, Cristina Rizzi Galareni.

 

No teatro, o professor Fabiano Amorim comanda um dos trabalhos mais impactantes com a população. Ensina artes cênicas para usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAP). São portadores de transtornos mentais e dependência química que se deslocam do espaço terapêutico de tratamento e entram no palco lúdico do teatro. “Nossa atividade ajuda o usuário a aderir ao tratamento. São pessoas que são rechaçadas pela sociedade e, aqui, experimentam a sensação de serem aplaudidas”, explica.

 

Talentos descobertos

 

Fabiano comanda ainda o curso de teatro da instituição, incentiva a vinda de alunos da rede pública de ensino para assistirem às peças e executa a Mostra de Teatro de Piraquara, um sucesso na cidade. “Descobrimos talentos. Há dois dos nossos estudantes que, hoje, fazem artes cênicas. Estamos felizes em ter esse abrigo, que melhora o conhecimento cultural dos alunos e do cidadão”, destaca.

 

Vilma Araújo é uma dessas estudantes apaixonadas pelo teatro. Já participou das peças “Casamento caipira”, “O Natal de Dindim” e “Convite de casamento”. “A maioria chega aqui com o objetivo de perder a timidez, os medos e as frustrações. Depois, fica diante do mágico, do encantador e do fascinante mundo do teatro”, celebra.

 

A abertura do teatro em Piraquara movimentou a cadeia produtiva das artes cênicas paranaense. Sediadas em diversas cidades do estado, companhias teatrais conseguem aumentar a itinerância por meio de lei de incentivo local. A Companhia Karagozwk, de Curitiba, incluiu a apresentação de “Alberto, o menino que queria voar” em Piraquara. “É de extrema importância levar nosso teatro de luz e sombra para todas as comunidades nos mais distantes rincões. Ter ido a Piraquara foi incrível, porque levamos uma mensagem que inspira o jovem e a criança a um mundo melhor”, destaca o diretor Marcello Andrade dos Santos.

 

 

Fonte: Minc